quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Vazio


"Ele sempre esteve aí,
O vazio, o nada, o silêncio.
As vezes eu fingia não vê-lo
Apenas para não me incomodar tanto

Com o passar do tempo ía ficando difícil ignorá-lo
Ele ia ficando cada vez mais nítido...
Fingir já não era o suficiente, então tentei preenchê-lo.
Mas era vazio demais.

Tentei preenchê-lo com a aprovação das pessoas,
Por um tempo pareceu satisfatório,
Mas não demorou para perceber que a aprovação das pessoas é relativa e passageira
E assim percebí que ainda havia muito vazio a ser preenchido
E que a aprovação era pequena demais para preencher tamanho espaço.

Tentei então preenchê-lo com minha profissão.
Me afundava de trabalhar todos os dias...
No início pareceu funcionar, mas na verdade só servia de distração.
Enquanto eu trabalhava não reparava no tamanho do vazio, mas ele continuava lá.
E nas noites mais frias e nos feriados eu não podia evitá-lo.

Tentei então preenchê-lo com coisas.
Acabei com meu cartão de crédito, comprei tudo que pude imaginar.
Carro, mobílias, apartamento, televisões, computadores...
Tudo que havia de mais sofisticado era meu.
Mas tentar preencher o vazio com coisas
é como tentar encaixar uma peça de um quebra cabeça em outro.
Por mais que você tente, jamais encaixaria.

Tentei preencher o vazio então com um lar.
Sim, uma família seria capaz de fazer isso.
Me casei, tive filhos... mas eles não eram capazes de suprir o meu vazio.
Não eram bons o bastante...
Me separei, casei novamente e tive outros filhos.
Só então percebi que não era possível preencher aquele vazio com uma família.

Minhas alternativas se esgotaram. Meus filhos já tinham filhos.
Ninguém se importava muito comigo a essa altura.
Mas o vazio continuava a me fazer companhia, a crescer a me provocar.
A angústia já era insuportável
e a falta de relacionamentos profundos e verdadeiros era encorajadora...

Talvez a única forma de tirar aquele vazio de dentro fosse abrindo um furo para que ele pudesse sair.
Essa era a única alternativa que não havia testado.
Juntei todos os meus motivos, abandonei o medo, tirei uma arma da gaveta e puxei o gatilho.

Então entrei em desespero,
pois por mais terrível que fosse conviver com o vazio que havia dentro de mim
sempre houve resquícios de coisas no mundo externo a minha pessoa.
Agora tudo que havia a minha volta somou-se ao que continuava a me preencher:

O nada,
O Vazio,
O Silêncio,
Pra sempre..."

Yuri Costa

É medonho imaginar que tantas pessoas a nossa volta (sobre)vivem dessa maneira. Enquanto outros de nós temos um incrível privilégio de ter a única coisa que preenche esse vazio. Um relacionamento com Jesus. Ele nos ama, nos ama demais. Acho fantástico a forma como C.S.Lewis descreve isso em Nárnia "O Sobrinho do Mago", esse é o texto que mais gosto dessa crônica. Digory amava demais sua mãe que estava na Terra muito doente, e esperava conseguir algo em Nárnia que a curasse, quando conheceu Aslana soube que ele poderia curá-la, e é mais ou menos nesse momento que acontece o texto:

"_Mas por favor, por favor, o senhor não poderia me dar qualquer coisa que salvasse minha mãe?

Até aquele instante, só olhara para as patas do Leão; agora, com o desespero, olhou-o nos olhos. O que viu o surpreendeu mais do que qualquer outra coisa. Pois a face castanha estava inclinada perto do seu próprio rosto e (maravilha das maravilhas) grandes lágrima brilhavam nos olhos do Leão. Eram lágrimas tão grandes e tão brilhantes, comparadas às de Digory, que por um instante sentiu que o Leão sofria por sua mãe mais do que ele próprio."

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