domingo, 12 de dezembro de 2010

A Viagem (Só de ida) do Peregrino da Alvorada

Como disse em meu post anterior, assisti o filme "As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada", e agora venho a publicar a minha crítica sobre o filme, gostaria de começar dizendo que sou um grande fã de As Crônicas de Nárnia, Tenho, lí e gostei de todos os livros e também assisti e gostei (apesar das alterações em minha opinião desnecessárias em Principe Caspian) dos filmes anteriores. Além disto, a Viagem do Peregrino da Alvorada é minha crônica preferida. Também preciso ressaltar que já lí algumas críticas e fãs comentando criticas dizendo que muitos tem falado mal, mas sem apresentar argumentos significantes ou sem conhecer realmente a obra (o que posso até concordar), por isso gostaria de pedir que você que é fã tenha um pouco de paciência pra ler todos os argumentos e a conclusão desta crítica e realmente julgar se são ou não coerentes, lendo de forma desarmada, sem querer defender o filme apenas por ser uma crônica de Nárnia e por amá-la por isso (assim como eu). Dito tudo isso vamos a crítica em sí:

Primeiro preciso criticar o filme como filme em sí, sem me ater ao fato (que considero mais importante) da comparação com o livro e com o que a crônica original é e quer passar. Mas ao contrário de muitas críticas vou mostrar e dividir exatamente meus critérios. Acredito que 5 coisas sejam fundamentais em um filme como esse: Trilha e efeitos sonoros; Atuação; Roteiro; Efeitos especiais e Cenário (+ fotografia). Pois então vamos a cada um deles:

Trilha e efeitos sonoros: Nada a reclamar dos efeitos sonoros do filme, até porque dificilmente este é um ponto crítico em qualquer filme, já a trilha sonora infelizmente decai muito perto do nivel dos anteriores, o compositor dos filmes anteriores é Harry Gregson Williams e fez um trabalho tão bom que ainda deixou sua marca com a música que timidamente acabou se tornando tema de Nárnia. O novo compositor, David Arnold, não conseguiu manter o mesmo nível, fazendo músicas que não dão nem de perto o mesmo clima épico dos predecessores.

Atuação: Este é um dos pontos que mais salva o filme, já que apesar das falas escolhidas pelo roteirista os atores mandam bem, especialmente Will Pouter que é o Eustáquio perfeito, bem pelo menos dentro do roteiro inventado sob a aprovação do diretor, Michael Apted. Skandar Keynes (Edmundo), Ben Barnes (Caspian) e Georgie Henley (Lucia) também mandam bem em seus respectivos papéis, sendo convincentes e por vezes até comoventes.

Roteiro: Não vou me ater as adaptações ainda, vou apenas analisar a escolha das falas durante o filme neste tópico, e cá entre nós, foi quase cômica. Tem muitas falas horríveis (obs, assisti o filme dublado pq só tinha esse aqui em Valinhos, mas devo assistir legendado ainda, o que acho que ajudaria um pouco no filme), coisas como: "Estou aqui, venha me comer!" Dito por Edmundo à serpente marinha se repetem muitas vezes pelo filme, sem se darem conta do quão óbvias e toscas são. Por outro lado as narrações do diário de Eustáquio são excelentes e engrassadíssimas, mas não são suficiente para salvar o filme.

Efeitos especiais: Os efeitos até que são interessantes, pra começar o navio foi filmado sem tocar uma vez se quer na água, e em tempo algum do filme você duvida que ele esteja de fato navegando. Outros efeitos são aplicados durante todo o filme e em geral são muito bonitos, o maior de todos eles é o Dragão e a serpente marinha, a serpente ficou excelente, já o dragão convence melhor quando de longe, pois em plano detalhe sofre um pouco com as expressões faciais dúbias, o que admito ser um problema dificílimo de ser resolvido, de qualquer forma não chega a ser um ponto que puxe o filme pra baixo.

Cenários e fotografia: Sem dúvida o pior Nárnia com relação a isso, devem ter economizado pra caramba com cenário. O Peregrino é um dos poucos cenários que realmente convencem. Os demais são fracos em detalhes e dão uma dimensão super restrita, o que deveria ser exatamente o oposto, visto que são ilhas na maioria grandes (ou deveriam ser) no meio de um enorme oceano. Infelizmente se comparado a beleza e riqueza dos cenários e da fotografia dos filmes anteriores fica nítido o que estou dizendo.

Pois é, em resumo comparando este filme em termos técnicos aos anteriores, ele é o mais fraco até então. Mas isso não é o que realmente considero que derrubou e me decepcionou quanto a esse filme, mas sim as adaptações feitas no mesmo, e agora sigo a relatar quanto a isso:

Se você viu e achou as leves alterações de Principe Caspian desnecessárias não acreditaria no que houve com esse filme. Fui assistí-lo com muitos amigos (fora de brincadeira 90% da sala de cinema eram amigos meus). Tinham pessoas que nunca leram o livro, pessoas que já, pessoas que viram os outros filmes e que não, e todos acharam essa história das sete espadas super confusa. Isso pra não falar na tal da fumaça verde e em como dão ênfase na cena do Coriakin dizendo sobre o grande mal que poderia dominar o mundo e na prática tudo parece muito diluído, de forma a tornar a situação incoerente. Sobretudo, procurei saber se Michael Apted acredita realmente em Aslan (Jesus) em nosso mundo, mas não encontrei nenhuma informação a esse respeito, porém devido as opções que ele fez no filme arrisco dizer que ele não acredita ou não entende bem o que de fato é o cristianismo e as mensagens que Lewis queria passar com a crônica. Isto porque durante o filme como um todo a proposta apresentada por Apted é de que os personagens se aprimoram e se transformam a partir de seus próprios esforços, vamos aos exemplos: Eustáquio ao virar dragão se torna bom, mesmo antes de ter um encontro significativo com Aslan, de fato no livro ele se entristece muito quando na forma de dragão, e até ajuda a arranjar um mastro novo pro navio (no livro, já que no filme num tem porque arranjar mastro novo visto que a serpente marinha nem apareceu até esse momento), mas só se transforma realmente o caráter depois que Aslan o transforma novamente em menino, já no filme enfatizam meio como se o castigo de ter virado dragão foi o que o fez mudar. Outro exemplo é Caspian no final admitindo por conta própria que deve voltar para guiar seu povo, como rei, sendo que no livro pra tomar tal decisão ele precisa escutar uma "burduada" de Aslan primeiro, dentre outros exemplos. Já a proposta da espiritualidade cristã é justamente o contrário, é dizer que por mais que tentemos ser bons não conseguimos ser o suficiente, apenas Jesus/Aslan é que foi capaz de fazer isso por nós. Outra coisa que me faz questionar se Apted realmente acredita que o outro nome pelo qual Aslan é conhecido em nosso mundo seja Jesus, é que ele omite coisas que explicitam isso como a figura do cordeiro na praia assando peixes (imagem idêntica a descrita em João 21), ou quando ele diz que para chegar ao país de aslan em nosso mundo é preciso atravessar um rio, mas não temam pois Ele é o grande construtor da ponte, fazendo menção a Cruz.

A ordem das ilhas é completamente diferente. Não existe essa história de sete espadas ou fumaça verde, o objetivo do livro era reencontrar os sete lordes perdidos e buscar aventuras rumo ao extremo oriente onde talvez chegassem ao país de Aslan no fim do mundo. O cerne do livro está na busca pela intimidade de Aslan, em o quanto estamos dispostos a avançar em direção a Ele, e é revelado isso na figura de Ripchip. Que por várias vezes diz que o que mais quer é chegar até o país de Aslan. Outra coisa péssima é que rancaram diálogos importantíssimos do filme, o único que se manteve foi uma parte do último, quando Aslan diz que é conhecido por outro nome. Mas tiram a declaração de Ripchip, sobre o quanto está disposto a avançar em direção ao leste, tiram o de Aslan com Lúcia que revela que ele está sempre por perto, tiram o de Aslan com Caspian até porque o Caspian do filme nem precisa do Aslan pra tomar as decisões certas, tiram boa parte da cena de Aslan com o Dragão e tiram boa parte do diálogo final com Aslan, em resumo no filme Aslan é quase mudo. O que é inconcebível visto que Ele deveria ser o personagem central das crônicas. Isto tudo me deixou muito frustrado em relação ao filme.

Conclusões: Em matéria de filme mesmo, é o pior dos três, tendo uma trilha sonora pior, diálogos piores e tendo um enredo confuso. Quanto a proximidade com a crônica original, é o menos fiel, cortando os diálogos mais importantes pra comparações cristãs. Portanto gostaria de ver a Cadeira de Prata indo ao cinema sim, mas com Andrew Adamson (diretor dos 2 primeiros filmes) novamente, se for pra ter outro filme como esse prefiro que nem seja feito. Fiquei muito decepcionado com o resultado final, e olha que como li muitas notícias antes do filme minhas expectativas já eram baixas e nem assim foram supridas. Em um próximo post vou fazer a relação de parte por parte do filme comparando ao livro, pois ainda tem muito a ser dito quanto a isso, mas sinto que já me estendi demais nesse post. Assista se você quiser, mas em hipótese alguma deixe de ler essa crônica caso não se interesse muito por este filme. Por fim aos fãs, principalmente do mundo Nárnia, sou da opinião que este filme não deve ser incentivado, não deveríamos passar a mão na cabeça de algo assim, este filme não está de acordo com o que C.S.Lewis queria passar com sua Crônica, e portanto acho que como verdadeiros fãs deveríamos é nos posicionar contra tal atitude pra ver se conseguíamos ter um filme digno dos dois primeiros, pelo menos no que tange a realmente fazer uma relação com o Cristianismo.

5 comentários:

  1. Quero fazer minhas as suas palavras. A ênfase desta crônica esta de fato na busca de intimidade com Aslan, e como é ele próprio que em todo tempo está nos conduzindo a isto. Também fiquei muito decepcionado por perceber a clara opção do diretor e produtores de não relacionar o mesmo ao que de fato ele expressa, a proposta de vida de Deus em Jesus Cristo. A cena do cordeiro virando um leão, seria algo extraordinário em termos de efeitos especiais no cinema, por que foi omitida?

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  2. Olá, "rYuri"!
    Pois bem, vi seu tweet indicando o post com a crítica do filme e como uma grande fã de Nárnia, decidi lê-lo.
    Gostei bastante do modo com que aplanou as informações, mas fiquei triste, pois mesmo gostando bastante dos livros e filmes ainda não vi o Peregrino de Alvorada e já me sinto um pouco decepcionada T.T
    Concordo plenamente com isso das sete espadas ou fumaça verde, pois é extremamente tosco e ridículo, fugindo do filme.
    Pois bem, não sei exatamente o objetivo deste comentário, mas ok.
    Logo verei o filme e tirarei minhas próprias conclusões. :D

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  3. Estava passando pelo Mundo Nárnia e vi o link para a sua crítica... primeiro de tudo, parabéns, é uma das melhores que já vi até agora. Não está confusa e tem vários argumentos.
    Ainda não assisti VPA, e não quero ler o original antes do filme para não criar expectativas. Respeito a opinião dos fãs, mas tenho que dizer que entendo as mudanças no roteiro. A intenção da Fox era aumentar o público-alvo. Talvez ter Aslam comandando ficasse estranho para quem não entende a mensagem. Muita gente torce o nariz só de ouvir falar em cristianismo. E o interesse da Fox é vender. Acabaram fazendo algo "neutro", focado somente na força de vontade dos personagens.
    Estudei a vida inteira em uma escola cristã, portanto estou acostumada a ouvir falar de Deus. Aceitaria um mensagem espiritual no filme na boa, mas tenho certeza que muitos não fariam o mesmo. Se os filmes trouxessem a mensagem integral, o público seria restrito demais.
    Ah, outra coisa: li um pouco da obra de Lewis e concordo plenamente quando a Fox diz que "falta narrativa fílmica". As Crônicas não foram escritas em uma época dominada pelo cinema. Isso é perceptível na leitura.
    Enfim. Só queria deixar registrada a opinião de alguém que não conheceu Nárnia pelos livros :] Lembro-me sempre do escritor Luis Fernando Verissimo quando falo em adaptações. Minha escola fez uma entrevista com ele uma vez, e perguntaram como ele se sentia quando seus personagens eram adaptados para tv/cinema. Ele respondeu que não há o que sentir, é um trabalho totalmente diferente do original, feito por outra pessoa. Querendo ou não, a Nárnia dos livros é uma, e a dos filmes será sempre diferente...

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  4. Ótima crítica do filme! Concordei em vários aspectos.

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  5. ótima crítica. adorei seu ponto de vista e suas argumentações. concordo plenamente com você. Se fosse para fazer esse filme, pensava duas vezes antes de fazer para entregar este material. depois não coloque a culpa na série e sim em quem fez.

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