sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Cristianismo Puro e Simples 2 - Algumas Objeções

Concluímos o capitulo anterior com a premissa de que o ser humano sabe como deveria se comportar mas não o faz. Segundo C.S.Lewis antes de prosseguirmos no raciocínio é importante reafirmar esses pontos a partir de algumas objeções.

Há quem questione se o que chamo de Lei da Natureza Humana, não é na verdade o nosso instinto gregário. Bom, não nego que exista instinto gregário, todos nós sabemos o que agir movido pelo instinto de amor materno, pelo instinto sexual, ou pelo instinto de alimentação. É simplesmente sentir um forte desejo de agir de determinado modo. E por vezes esse instinto nos leva a desejar ajudar alguém. Porém sentir o desejo de ajudar é diferente de sentir que deva ajudar, querendo ou não.

Se você ouvir um grito de socorro provavelmente será acometido por dois desejos: Prestar ajuda (devido ao instinto gregário); e se esquivar do perigo (devido ao instinto de conservação). Mas dentro de você além desses dois impulsos, haverá uma terceira coisa que lhe dirá que o impulso de socorrer deve ser seguido e o de fugir deve ser reprimido. Essa outra coisa que julga os dois instintos e decide qual deve ser seguido não pode ser nenhum dos dois instintos não é mesmo? É algo externo a eles.

Portanto é importante ressaltar que existe algo que define qual instinto seguir e quando seguir, afinal os instintos não são bons ou ruins em si mesmos. Mesmo o instinto sexual, ou o de luta possuem momentos em que devem ser estimulados. E em contrapartida se acharmos que qualquer sentido mesmo os que parecem bons devem ser seguidos sempre, nos cegamos e acabamos nos tornando monstros.

Outros questionam-me se o que chamo de instinto moral (ou lei da natureza humana) não passa de uma convenção social, algo que nos é incutido pela educação. "Há um mal entendido aqui. Quem faz essa pergunta geralmente tem o pressuposto de que se aprendemos alguma coisa de nossos pais ou mestres, isso não passa de uma invenção humana". Mas isso não é bem assim. Aprendemos a tabuada na escola, alguém que crescesse em uma ilha deserta não a saberia, mas isso não quer dizer que a tabuada seja uma invenção que o homem poderia ter feito de outra forma se quisesse. A matemática é o que é, e é descoberta pelo homem, não inventada por ele.

Concordo que aprendemos a regra do bom comportamento através de nossos pais, professores, livros e amigos, assim como aprendemos todas as demais coisas. Porém parte do que aprendemos são convenções (como se manter a direita no trânsito, poderia muito bem ter sido a esquerda se assim o homem quisesse); e outras, que incluem a matemática, que são verdades absolutas. A questão agora é definir em qual categoria se encaixa a Lei da Natureza Humana.

O primeiro motivo pelo qual a considero absoluta é que como vimos no capitulo anterior diversas culturas e civilizações pela história continuam a manter uma mesma essência moral apesar das divergências, já convenções são completamente diferentes em diversos países em qualquer época que seja. A segunda é que quando olhamos pras diferenças entre as moralidades das culturas temos a tendência de compará-las julgando que umas são melhores, ou piores do que as outras. "Se nenhum conjunto de idéias morais fosse mais verdadeiro ou melhor do que outro qualquer, não teria sentido preferir-se a moralidade de um povo civilizado à de um povo selvagem, ou preferir a moralidade cristã à nazista.

Todos cremos que certos padrões morais são melhores do que outros. Mas pense bem, para dizermos isso é necessário um padrão externo, algo com o qual comparar as duas moralidades e ver qual delas se aproxima mais da moralidade desse padrão. Seria uma moralidade absoluta. Assim teríamos que admitir que existe um certo absoluto independente do pensamento de quem quer que seja, pois assim podemos comparar quais idéias mais se aproximam deste certo absoluto.

Portanto conclui-se que mesmo a existência de divergências entre os povos sobre o que é certo e errado acaba por reafirmar a existência de um certo absoluto. Pois ao compararmos o que cada povo acha certo ou errado escolhemos quais moralidades são melhores e portanto acabamos comparando-as com um padrão exterior a elas que seria uma moralidade perfeita ou ideal.

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