sábado, 28 de janeiro de 2012

Cristianismo Puro e Simples 3 - A Realidade da Lei

Agora que já vimos algumas objeções, vamos seguir em frente no raciocínio a partir da premissa: O homem conhece a Lei da Natureza Humana e não a cumpre. Talvez você considere que tal situação não seja digna de muita atenção, afinal "dizer isso não seria apenas dizer que não somos perfeitos? E por que deveríamos de ser?" Tais perguntas fariam sentido se meu objetivo fosse apontar quantas vezes não agimos como achamos que os outros deveriam agir e censurar-nos por isso. Mas não estou interessado em censuras, meu objetivo é descobrir a verdade. E deste ponto de vista (do da verdade) a própria ideia de imperfeição, ou seja, de algo não ser exatamente como deveria ser, possui suas consequências.

Pense em uma pedra, ou em uma árvore, dizemos que ela é o que é, não faz sentido dizer que deveria ser diferente. Podem até não ter o formato que te beneficie em algum dado objetivo, como fazer uma parede ou produzir mais sombra, mas isso não é culpa da pedra, ou da árvore, elas são o que são a partir das leis físicas e biológicas.

Quanto a tais leis, não são na verdade o que poderíamos chamar de leis, apenas expressam fatos, afinal leis podem ser obedecidas ou não, mas estas são impossíveis de desobedecer, portanto são apenas fatos. Como a lei da gravidade por exemplo. Porém a Lei da Natureza Humana não é como estas outras, ela não significa algo que os seres humanos de fato fazem. Pois como já vimos a maioria não obedece esta lei e NINGUÉM a cumpre perfeitamente. Portanto quando se trata do homem e da Lei da Natureza Humana, há algo além dos fatos. O homem age de determinada maneira (fatos), mas sabe que deveria agir de outra (algo mais). Todas as demais coisas do universo se atém aos fatos.

Em uma atitude defensiva, tentamos explicar isso como o caso da pedra e da árvore, dizendo que é só um caso de inconveniência para um certo objetivo. Mas isso não é assim, veja bem: Se alguém chega primeiro no ônibus e pega o acento da janela, lhe é inconveniente, da mesma forma como se alguém rouba o seu acento enquanto você vai ao banheiro; porém o segundo é digno de censura e o primeiro não. Assim também é quando alguém o derruba sem intenção, você pode até se zangar, mas logo o perdoa, já alguém que mesmo sem êxito tenta te derrubar de propósito torna-se um inimigo para você.

O que quero mostrar é que nem sempre o que chamamos de mal, é inconveniente, na guerra é conveniente ter um espião traidor no campo adversário, mas apesar de pagá-lo por seus serviços seus amos também o consideram um ser vil. Portanto não dá para afirmar uma relação direta entre a Lei da Natureza Humana e questões de utilidade e conveniência como no caso da pedra e da árvore. Basta notar que o comportamento dito correto nem sempre nos agrada, compensa ou é útil a nossos olhos. Fazer o dever de casa ao invés de copiar de alguém, cumprir com o que nos comprometemos mesmo que seja indesejável ou dizer a verdade mesmo quando isso nos faz passar de bobos, são exemplos claros do que estou dizendo.

Há quem conteste dizendo que embora o comportamento correto nem sempre seja útil ao indivíduo, o é à sociedade, e portanto não há mistério nenhum nisso. Os seres humanos percebem que só podem ser felizes e seguros em uma sociedade onde os indivíduos ajam entre si com honestidade e justiça, e é por isso que devem se comportar corretamente. Bem, é verdade que felicidade e segurança dependem de que os indivíduos ajam de forma leal e correta uns com os outros. Mas se perguntar: "Por que não devo ser egoísta?" responderiam que é porque é bom para a sociedade, mas isso suscitaria uma contradição ou uma redundância. A contradição é porque se você age dessa forma ajudando a sociedade para no fim obter segurança e felicidades próprias, então está sendo egoísta. A redundância é que se o indivíduo já se considera feliz ou seguro o suficiente, perguntaria porque deve se importar então com a sociedade e a única resposta que daríamos é "Porque não devemos ser egoístas. O que volta ao começo.

Você está dizendo uma verdade, mas nada além disso. É como dizer: "Qual a razão de se jogar futebol?" e se respondermos "Fazer gols" na realidade só repetimos o que É futebol, mas não demos o motivo pelo qual jogá-lo. Você só está dizendo que futebol é futebol, o que é verdade, mas dispensa ser dito. Da mesma forma dizer que se deve ter um comportamento correto para beneficiar a sociedade (ou seja para não sermos egoístas) é redundante, pois não ser egoísta é parte de se ter um comportamento correto. O mistério aqui portanto é que o homem sabe que não deve ser egoísta, mas não sabe explicar porquê.

Concluímos então que a Lei da Natureza Humana não é como as outras leis (que na verdade não são leis, são fatos); também não é uma fantasia, porque se pudéssemos nos livrar dela a maior parte do que falamos ou pensamos sobre o ser humano não faria nenhum sentido; e também não é uma idealização do que nos é conveniente como indivíduos, porque nem sempre o que é correto é conveniente; podemos dizer que é conveniente para a sociedade , mas não passaria de uma redundância e continua sem explicar o porque devemos agir dessa forma. Sendo assim a Lei da Natureza Humana só pode ser uma lei objetiva que não depende do ser humano e nem foi inventada por ele, é algo acima e além dos fatos do comportamento humano e ainda assim perfeitamente real. Uma lei objetiva que nenhum de nós criou, mas que sentimos que atua sobre todos nós.

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