domingo, 29 de janeiro de 2012

Cristianismo Puro e Simples 4 - O que há por trás da Lei


No capítulo anterior concluímos a existência de uma lei objetiva criada, mas não POR seres humanos, mas PARA eles. Mas o que isso nos diz a respeito do universo?

Existem duas correntes de pensamento sobre este assunto. Uma é Materialista (crê que a matéria é eterna), sem razão de existir, que comportando-se ao caso, gerou o universo, e a vida que evoluiu em uma série de improbabilidades num ambiente propício até se tornar seres racionais. A outra corrente, é a corrente Religiosa, que afirma haver algo por trás do universo que o criou e que se assemelha ao nosso ponto de vista mais com uma mente, do que com qualquer outra coisa que conheçamos. "Algo" com propósito e consciência, que possui preferências, escolhas. Segundo esta corrente o universo bem como o ser humano é criado com um propósito e estes seres humanos se assemelham com esta "mente" pelo fato de também possuírem mentes.

Nunca uma dessas correntes se extinguiu ou prevaleceu sobre a outra evoluindo e caminhando para o total extinguir da outra. Aonde houver pensadores, existirão as duas correntes. Além disso posso afirmar que pelo método científico é impossível provar qual delas está correta, isto pq tal método parte da experimentação e observação. Em qualquer definição científica acabaremos reduzindo o processo em frases como: "Apontei o telescópio a tal hora para tal direção e observei que..." ou "Misturei tais elementos a uma temperatura tal e averiguei que..." Não estou desprezando a ciência, estou apenas explicando o que ela faz e como ela faz. Seus objetivos são úteis e necessários.

Mas a razão pela qual as coisas existem e se há ou não "alguma coisa" por trás delas não é um problema científico. Se há "algo por trás", este "algo" continuará desconhecido, ou se fará conhecer por outro meio. Afirmar a existência ou não desse ser é algo que a ciência jamais poderá fazer. Os verdadeiros cientistas em geral se abstém de fazer tais afirmações, geralmente esse tipo de especulação é feita por jornalistas ou autores independentes que fazem um apanhado desconexo de fatos científicos e compõem em ordem aleatória as informações de uma ciência mal assimilada. Mesmo se um dia a ciência se tornar perfeita e pudermos conhecer tudo que há no universo continuaríamos sem resposta para perguntas como: "Por que há universo?" ou "Por que ele se mantém?" ou ainda "Qual o sentido da vida?" pois tais questões são referentes ao que há de externo ao universo.São informações inacessíveis do ponto em que estamos.

Tal situação seria desesperadora não fosse o fato de que há uma coisa, e apenas uma em todo o universo, que conhecemos muito além do que conheceríamos através apenas da observação: e essa 'coisa' é o Homem. Nós não só observamos o homem, como nós somos Homens. Por isso temos informações de origem interna, nós SOMOS parte desse conhecimento. E é justamente por isso que sabemos que o Homem possui uma lei moral objetiva não criada por ele mas que atua sobre ele, a qual não é possível se esquecer completamente e a qual devem obedecer.

Percebemos que se alguém estudasse o Homem exteriormente, apenas através de observação, e desconhecesse nossa linguagem (impossibilitando o acesso a informações que só nós poderíamos fornecer), jamais suspeitariam de tal lei, afinal até comprovariam os fatos feitos pelo homem, mas não poderiam adivinhar que apesar do homem agir de uma maneira el saiba que deveria agir de outra. Assim se há algo exterior ao universo jamais poderíamos descobrir através de observações do exterior.

"O problema se coloca então da seguinte maneira: queremos saber se o universo simplesmente é o que é, não tendo razão para existir, ou se há um poder por trás que o faz ser o que é. Esse poder, se existir, não seria nenhum dos fatos observáveis, e sim uma realidade que os produz; por isso ele não poderia ser encontrado mediante a simples observação dos fatos. Num só caso poderemos saber se há ou não algo além: no nosso próprio caso. E neste único caso sabemos que há."

Se há um poder controlador fora do universo ele não poderia se apresentar como um dos fatores de dentro do universo, assim como um arquiteto que projeta uma casa não é uma de suas paredes ou vigas. O único modo que admitiríamos que um poder desses se revele seria na forma de uma influência ou comando, atuando dentro de nós no sentido de procedermos de uma certa maneira. E é justamente isso que constatamos dentro de nós. No único caso que poderíamos esperar uma resposta, a resposta é SIM, e nos outros casos sem resposta, sabemos porque não as obtemos (porque são apenas observadas exteriormente).

É como se você visse uma pessoa uniformizada deixando envelopes na sua casa, você imaginaria que todo o conteúdo que ele carrega dentro dos envelopes são cartaz, mesmo que jamais tenha abrido os envelopes alheios, você conclui isso a partir dos envelopes que foram destinados a você e que sempre têm cartas dentro. Mesmo que o conteúdo das cartas seja diferente, ainda assim é óbvio que em todas elas há um remetente. Não sabemos o que o remetente diz as demais coisas que nos cercam, mas ao ser humano ele fala a respeito de sua lei moral.

Não pense que estou avançando rápido demais, ainda estou longe de apresentar tal força como o Deus do Cristianismo, mas definimos com clareza e lógica que há uma Lei objetiva que não foi feita pelos seres humanos, mas para eles, por um remetente que está por trás de todo o universo, chegamos a tal conclusão ao analisarmos nossa própria natureza a partir de informações internas que só temos por sermos seres humanos (o próprio objeto do estudo). Pensamos até aqui que tal "remetente" se assemelhe mais a uma mente do que qualquer outra coisa que conheçamos, porque tudo o mais que conhecemos é matéria, e é difícil de imaginar matéria sem mentes capazes de dar instruções, não é mesmo? Mas não é preciso até a linha de raciocínio atual que seja realmente como uma mente, ou muito menos como uma pessoa. No próximo capítulo tentamos refletir mais sobre esse ponto.

NOTA: para facilitar a compreensão só foram abordados os pontos de vista materialista e religioso, mas existe um terceiro ponto que seria o da força vital, ou da evolução criadora, que defende que as evoluções do mundo que geraram a vida que conhecemos hoje não é fruto do acaso, mas segue propósitos de uma força vital. Mas para isso é preciso se perguntar se tal Força Vital é dotada de espírito ou não. Se a resposta for afirmativa, então não se está falando nada de diferente sobre o conceito religioso. No caso negativo que sentido há em dizer que algo sem espírito conduz ou tem propósitos? O único motivo pelo qual alguém acreditaria em tal ponto de vista é devido a sua comodidade. Pensando assim recebemos todo o conforto emocional a partir da crença na existência de um Deus, mas não nos vinculamos a nenhuma outra consequência desse fato. Se tudo vai bem é legal acreditar que o universo não é uma mera dança mecânica de acasos. Mas se queremos fazer algo "ruim" então este "Deus" jamais nos impediria. A Força Vital é uma espécie de Deus domesticado. Podemos fazê-lo entrar quando quiser, mas não nos incomodará. Tal comodidade é atraente, mas para aqueles que buscam a verdade e não a comodidade, é um caminho facilmente abandonado.

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