sábado, 4 de fevereiro de 2012

Cristianismo Puro e Simples 9 - O Arrependimento Perfeito

Como disse no capítulo anterior, ou Jesus era um louco, ou um demônio mentiroso, ou era o que dizia ser. Lendo os relatos sobre sua vida não posso acreditar que com toda sua sabedoria ele fosse louco, e também não acredito que ele era um demônio principalmente pela forma como a bíblia relata seus encontros com pessoas endemoninhadas. Então por mais assustador e improvável que pareça devo aceitar que ele era o próprio Deus em forma humana. Mas o que ele veio fazer aqui? Bom, certamente veio ensinar, mas não foi a única coisa que veio fazer, o novo testamento ou qualquer outro texto cristão fala constantemente de sua morte e ressurreição. Mais ainda, os cristãos creem que esse é o principal motivo de Deus ter se feito gente em Jesus.

A crença básica do cristianismo é que a morte de Cristo de alguma forma nos reconciliou com Deus e nos abre a possibilidade de uma nova perspectiva de vida. Existem diversas teorias cristãs que explicam essa morte, mas não são a mais pura essência da crença cristã. A principal teoria afirma que Cristo morreu porque Deus queria punir os humanos por terem escolhido se separar dEle e se unir ao grupo rebelde do inimigo, mas Cristo se ofereceu para ser punido em nosso lugar, e assim nos poupou. Mas o que quero ressaltar é que o que importa é a essência, e não as teorias que a explicam. Se alguém tem fome, se alimenta e fica bem, mesmo que não tenha nenhum conhecimento teórico de como se dá o processo que absorve os nutrientes dos alimentos, e mais, se algum dia tais teorias forem abandonadas, as pessoas continuarão comendo para combater a fome. Da mesma forma é com estudos de Física. Os cientistas explicam os átomos de forma a gerar em nossa mente uma imagem capaz de compreendê-los, mas eles não creem em tais imagens, eles creem em uma fórmula matemática. A representação mental é só para facilitar a compreensão, mas não é a verdade em si. Talvez você questione que bem faz acreditar em algo que não consegue entender. Bem como eu disse não é preciso entender o processo que leva o alimento a ser absorvido pelo corpo para se alimentar dele. Da mesma forma podemos crer que a morte de Jesus é algo que transforma toda a nossa vida mesmo antes de compreender o que ela é, ou o que ela representa. Aliás, só saberemos como ela opera em nossas vidas depois que aceitarmos e crermos que ela opera.

Portanto a essência é: Cristo morreu por nós, sua morte limpou nossos pecados e morrendo, ele venceu a própria morte. As teorias que explicam como a morte dele operou tais fatos são secundárias, e não devem ser confundidas com a essência, ainda assim é interessante conhecer tais teorias, pois assim como as imagens que os físicos fazem dos átomos, elas nos ajudam a compreender melhor o que aconteceu. A principal teoria é a que já afirmei, de que Cristo se voluntariou para sofrer o castigo que deveria ser nosso, e assim nos poupou. Mas penso que a princípio tal teoria lhe pareça tola, afinal se Deus tinha condições de nos poupar, porque não o fez desde o início? E porque punir um inocente no lugar do culpado faria diferença? Concordo que não faz sentido se estivermos pensando sob um ponto de vista policial, mas se pensarmos a partir de um ponto de vista de uma dívida, conseguimos entender que alguém com mais recursos possa pagar a dívida no lugar da pessoa que de fato deve. A pergunta que cabe ser feita agora então é que tipo de dívida o ser humano tem, de quanto estamos falando?

O homem tentou viver por conta própria, agir como se pertencesse a si mesmo. Em outras palavras o homem não é só um ser imperfeito que precisa se aperfeiçoar, ele é um rebelde que antes de mais nada precisa se render. O que o homem precisa fazer é pedir perdão, reconhecer que estava do lado errado, trilhando um mau caminho e se preparando pra recomeçar a vida do marco zero. Esse processo de entrega, esse movimento para trás a toda velocidade é o que o Cristão chama de arrependimento. Não confunda arrepender-se com desculpar-se. Arrependimento envolve que abandonemos uma postura de vida que temos desde que nascemos, é necessário "matar" uma parte de nós, em outras palavras para arrepender-se é preciso ser BOM. O problema é que só uma pessoa MÁ precisa se arrepender, mas só uma pessoa BOA é capaz de fazê-lo perfeitamente. Esse arrependimento perfeito é o que os cristãos chamam de conversão. E todo ser humano precisa passar por ela, embora uma parte deles se recuse.

O único jeito de passarmos por essa conversão, é com o auxílio de Deus, já que precisamos nos arrepender por sermos maus, e justamente por isso não somos capazes de nos arrepender. Deus nos auxilia colocando em nós um pouco de si, Ele põem sobre nós um pouco de seu raciocínio, e assim conseguimos pensar, põem sobre nós seu amor e assim conseguimos amar as outras pessoas. É como quando ensinamos uma criança a escrever. Ela segura o lápis e nós seguramos a mão dela, ela traça as letras porque nós as estamos traçando. Da mesma forma nós pensamos e amamos porque Deus está pensando e amando. Se não tivéssemos escolhido o lado rebelde, tudo isso seria fácil, mas agora dependemos completamente de Deus para fazer essas coisas. Precisamos principalmente do auxílio de Deus para fazer algo que em sua essência Deus não faz: voltar atrás, sofrer, submeter-se, morrer. Nada disso passa pela natureza de Deus, mas precisamos passar por isso e precisamos do auxílio dele, mas esse é um caminho que Deus em sua natureza nunca percorreu, Deus nos dá daquilo que tem, mas em sua natureza tais coisas não existem.

Mas antes que você se desespere, Deus já havia pensado em tudo isso, ele tinha a única resposta. Fundir sua natureza divina à uma natureza humana (capaz de sofrer e morrer), e então poder nos ajudar. Ele poderia sofrer e morrer por ser homem, e poderia fazer isso com perfeição por ser Deus. E é assim que Deus paga as nossas dívidas e sofre por nós o que Ele não precisaria sofrer de maneira nenhuma. A partir disso nossas tentativas de arrependimento só terão êxito se nós homens compartilharmos da morte de Deus que se fez homem.

Algumas pessoas criticam dizendo que a morte e o sofrimento de Jesus perderiam o valor se ele é de fato homem e de fato Deus, pois seria mais fácil para Ele. Na realidade, não eram apenas mais fáceis, a submissão, sofrimento e morte perfeitas só são possíveis por ele ser Homem e Deus. Mas não vejo nenhum motivo para não aceitar o que ele fez só porque lhe era possível fazer e não era a nós. Um professor ensina a criança pela mão a escrever porque é um adulto e já sabe escrever, se nos afogamos em um rio e há alguém na margem nos estendendo a mão diríamos "não posso aceitar sua ajuda, porque você tem uma vantagem"? Só podemos ser ajudados por alguém mais forte e que esteja em uma condição melhor do que a nossa. Não há motivo algum para se envergonhar disso, exceto o orgulho talvez. Mas alimentar o orgulho não passa de uma afirmação de que não queremos ajuda alguma, que podemos nos virar sozinhos, e foi justamente este pensamento que nos levou aonde estamos hoje, ao pecado, ao meio do rio profundo em que estamos prestes a nos afogar.

Mas como eu disse toda essa explicação é apenas uma teoria que explica a essência, não a confundamos com a essência em si, se a explicação não lhe ajudar então é melhor a deixar de lado. E se concentrar apenas na essência. Não deixe de se alimentar só porque não entende como os alimentos ingeridos acabam se tornando nutrientes absorvidos por seu corpo.

OBS MINHA (YURI): Não sei se tal teoria que C.S.Lewis explica realmente não faz parte da essência, ainda estou refletindo sobre o que ele quer dizer com isso e quais são as implicações práticas disso.

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