terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Cristianismo Puro e Simples 5 - Temos Razão para estarmos Preocupados

Concluímos no capítulo anterior que na Lei Moral alguém ou alguma coisa, fora do universo material, realmente atua dentro de nós. Imagino que alguns leitores tenham ficado descontentes quando cheguei a esse ponto, e consideram que apesar de eu ter camuflado uma filosofia na verdade eu só estava enganando-os pregando um sermão religioso. E que de religião este mundo já está cheio e a considera algo ultrapassado.
Bem, a vocês quero dizer 3 coisas.

Primeiro; quanto a ser ultrapassado, poderíamos dizer por exemplo que muitas vezes é sensato ser ultrapassado por um louco dirigindo na estrada, o que importa é chegar em nosso destino e se nos apressarmos talvez não cheguemos lá por tomar algum caminho errado, inclusive, se já estiver em uma rota errada, o único jeito de progredir é dando meio volta e voltando à estrada correta, do contrário jamais se chegará ao objetivo. Nada há de progressista em teimar e não admitir o erro, e creio que olhando pra nossa sociedade, é óbvio que o ser humano cometeu um grave erro em algum ponto.

Segundo; não considero que minhas palavras até então estejam relacionadas a um sermão religioso, não falamos nada até aqui sobre o Deus de uma religião, muito menos especificamente o do cristianismo. Só sabemos que há alguém ou alguma coisa por trás da lei moral e não nos valemos até então da igreja ou da bíblia para tais conclusões, usamos exclusivamente nosso raciocínio lógico, e portanto até então nada mais é do que filosofia pura. Sabemos da existência desse "algo ou alguém" por dois motivos, um é o próprio universo que ele fez. Se tivéssemos apenas esta evidência concluiríamos que esse alguém é um artífice brilhante, pois o universo é lindo, mas também alguém muito cruel, pois o universo também é muito perigoso. No entanto temos outra evidência que inclusive é o que nos leva a crer que o universo não é materialista (matéria eterna e condução evolucionista ao acaso), que é o fato de que como seres humanos conhecemos a lei moral embora não a tenhamos criado e não a obedeçamos apesar de sabermos que devemos obedecê-la.

A partir dessa segunda evidência podemos concluir que esse ser é bom, não no sentido de piedoso ou misericordioso, mas no sentido de correto e justo. Pois afinal a lei moral que ele estende ao ser humano é sempre pautada por extrema justiça e altruísmo. Uma parte de nós concorda com ele que o egoísmo, a ganância, etc, devem ser punidos e reprimidos, mas queremos que em nosso caso sejam feitas exceções. No entanto se há uma retidão absoluta ela deve odiar a maior parte de tudo o que fazemos, e esse é o nosso dilema. Se o universo não fosse governado por uma retidão absoluta então não haveria motivos para não agirmos como bem entendemos e assim estupros, roubos e assassinatos não poderiam ser considerados errados. Mas se é governado por tal retidão, então a cada dia que passa nos tornamos mais inimigos deste ser absolutamente correto. Deus é o único apoio e o extremo terror, o que mais precisamos e de quem mais desejamos fugir. O único possível aliado e nós nos fazemos seus inimigos.

Terceiro; se escolhi uma rota indireta para chegar a tais conclusões não foi meu objetivo enganar ninguém, acontece que para entendermos o que o Cristianismo fala a respeito do universo é preciso primeiro chegar a tais conclusões, o centro da tese cristã se encontra no arrependimento humano e no perdão divino, mas como falar sobre isso com pessoas que não sabem o que fizeram de errado e portanto não entendem de que devem ser perdoadas? É preciso primeiro concluir a existência de uma lei moral e de que há um poder por trás dela para entendermos que apesar de sabermos que devemos fazer algo não o fazemos, e assim vamos contra este poder por trás da lei. Só agora que entendemos o quão desesperadora é a nossa situação é que temos algo a aprender com o cristianismo. Pois ele explica como caímos nessa situação, como Deus pode ser pessoal além de uma mente por trás da criação, como as exigências dessa lei que nenhum de nós cumpre completamente foram cumpridas em nosso lugar, como o próprio Deus se fez homem para salvar o homem da condenação de Deus.

Queria poder dizer coisas mais agradáveis, mas se formos honestos conosco sobre os pensamentos que adotei até aqui não podemos negar a nossa trágica situação. Não tenho dúvidas de que o cristianismo proporciona uma satisfação indizível, mas ele não começa pelo conforto e sim pelo desconforto que descrevi até aqui. E digo mais, não adianta procurar a satisfação sem antes passar pelo desconforto, satisfação não é algo que encontramos procurando por ela. Se procurarmos a verdade poderemos encontrar a satisfação no fim. Se procurarmos primeiro a satisfação, não a encontraremos e nem à verdade, encontraremos apenas adulação superficial e falsa esperança e por fim o desespero.

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