quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Cristianismo Puro e Simples 7 - A Invasão

Como disse no capítulo anterior, o Ateísmo é uma teoria muito simplista. Mas não é a única, outra posição muito simplista é algo que gosto de chamar de Cristianismo Água-com-Açúcar. Que afirma que há um Deus bom no céu, e que tudo está bem, deixando de lado todas as difíceis doutrinas sobre pecado, inferno, redenção, demônios, etc... Ambas são filosofias muito infantis. Não adianta procurar uma religião ou filosofia simplista, porque as coisas reais não são simples, por mais simples que uma mesa pareça, na verdade sua composição química, a resistência do material, o projeto matemático por trás, tudo isso é parte fundamental da mesa que você tem, o que a torna real é sua complexidade. Você pode parar nas aparências, mas se realmente está buscando a verdade então é bom que esteja preparado, pois ela não é simples.

Algumas pessoas que vão abertamente contra o cristianismo, só o fazem lidando com um cristianismo infantil, mas quando se tenta explicar o cristianismo como um adulto então reclamam que é complexo demais para se entender. E se Deus existisse ele teria feito a religião algo simples de se entender. Bom, primeiro que a religião não é criada por Deus, ele se faz revelar por fatos inalteráveis, o que nada tem a ver com religião, quanto a simplicidade, bem como eu disse acreditamos na realidade das coisas por serem complexas. Se os planetas em nossa galáxia tivessem a mesma distância entre si, ou um padrão quanto ao número de luas, acharíamos que algo foi manipulado, facilitado, falsificado. Mas o universo é tão complexo e sem sentido (padrão) que nos leva a crer que só pode ser real. A realidade é de fato bastante surpreendente e este é um dos motivos pelos quais eu creio no Cristianismo, jamais alguém pensaria em algo assim. Resumindo as perguntas não são simples, suas respostas também não serão, deixemos essas filosofias simplistas de lado para buscarmos a verdade, a realidade, mesmo que envolvida em sua complexidade.

A grande questão que ainda não respondemos é: O universo contém coisas obviamente más e aparentemente sem sentido, mas no meio disso tudo existem os seres humanos que sabem que tais coisas são más e/ou sem sentido. Só há dois pontos de vista que conseguem explicar isso. Um é o ponto de vista cristão, que diz que tudo era originalmente bom, de alguma forma o mundo foi corrompido mas ainda retemos na memória como as coisas deveriam ser. Outro ponto de vista é o que se chama Dualismo, que afirma que há dois poderes equivalentes e eternos por trás de todas as coisas e que travam uma guerra sem fim. O problema do dualismo é que diz-se que os dois poderes são independentes, nenhum criou o outro. Cada um pensa que o que faz é bom e o outro é ruim. Um gosta do amor e da misericórdia e o outro do ódio e da destruição. Mas o que queremos dizer então quando chamamos um de "o bom poder" e o outro de "o mal poder"? Imagino que só aja duas possibilidades. Ou estamos dizendo que preferimos um ao outro como quem prefere coca-cola à guaraná; ou achamos que um pensa que é bom, mas na verdade é ruim independentemente do que ache ou das escolhas que os seres humanos façam em determinados momentos. Se fosse a primeira opção então deveríamos parar de falar sobre bem e mal, pois na realidade não passariam de escolhas de acordo com nossa conveniência, e já vimos alguns capítulos atrás que a Lei Moral não depende de nossa conveniência. Então sobra a opção de que o mal poder está equivocado e de fato ele é injusto.

Mas aí cairíamos de novo na questão de que para algo ou alguém ser considerado justo ou injusto é necessário um terceiro poder a que se compare os dois e veja qual está de conformidade com ele (justo) e qual não (injusto). Outra forma de vermos isso é que se o dualismo fosse verdade o mal poder exime que há desejo de maldade pela maldade. Mas isso não existe. Ninguém é mal por ser. Por mais cruel que alguém seja sempre há o objetivo por algo bom (prazer, dinheiro, poder, segurança) mas de modo errado. A maldade não passa da bondade corrompida, só podemos explicar uma perversão sexual a partir de uma sexualidade normal. Explica-se o pervertido pelo normal e não o contrário. Logo para ser mau é necessário que se busque algo bom pelo modo errado, ou que se tenha algo bom para perverte, mas um poder absolutamente mal não poderia buscar algo bom ou ter algo bom em nenhuma hipótese, a não ser que lhe fosse dado tais coisas pelo bom poder, mas nesse caso os poderes não seriam equivalentes e independentes. Não passa de uma fantasia.

É por esse motivo que o Cristianismo defende que o demônio é um anjo caído, pois reconhecem que o mal não é algo original, mas um parasita disposto a corromper a bondade. Para um homem ser mau é preciso resolução, habilidade, boa aparência, inteligência, e a própria existência, e tais coisas são boas em si mesmo. Ninguém poderia existir simplesmente pela maldade, porque existir é algo bom em si mesmo. Eis porque, rigorosamente, o dualismo não convence. Mas não tire conclusões precipitadas, algumas coisas no cristianismo realmente se assemelham ao dualismo. o Cristianismo defende sim a existência de um poder das trevas e que há uma grande batalha entre esses poderes, a diferença é que crê-se que o poder das trevas foi criado por Deus, que era originalmente bom, mas corrompeu-se. Assim a guerra seria mais como uma guerra civil onde vivemos na parte do universo dominada pelos rebeldes.

"Um território ocupado pelo inimigo, eis o que este mundo é! O cristianismo é a história de como o rei justo desembarcou disfarçado e nos chama para participar de uma grande campanha de sabotagem. Quando vamos à igreja, escutamos o telégrafo secreto de nossos amigos: esta é a razão pela qual o inimigo está tão interessado em nos impedir de irmos à igreja. Ele faz isso jogando com nossa vaidade, preguiça e esnobismo intelectual." Talvez alguns perguntem se vou então introduzir a figura do diabo com patas, chifres e tudo mais. Não tenho predileção por patas e chifres, e não tenho interesse em conhecer sua aparência física, mas fora isso a resposta é sim. E mais afirmo que se alguém tem interesse em conhecê-lo não se preocupe ele se fará conhecer, mas se você ficará contente ao conhecê-lo, isso é um outro problema.

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